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terça-feira, 22 de junho de 2021

EPISTEMOLOGIAS DO SUL - Combate a Sociedade Desigual (GOSS & SALLES Fo, 2020)

                 Epistemologia, segundo Paiva (2015, p. 200), “é toda concepção refletida ou não sobre as condições de conhecimento válido”... a busca por entender as epistemologias do Sul faz surgir um universo de incansáveis lutas, evidenciando a heterogeneidade mundial em relação a costumes, crenças, culturas e valores. Porém segundo Paiva (2015) no desenvolvimento da história se sobressaiu uma única configuração de conhecimento ' disseminada por séculos, minimizando e obscurecendo outras epistemologias e desconsiderando qualquer outra forma de conhecimento. Esta configuração estava relacionada ao Norte global, particularmente ao modelo da sociedade da Europa... Santos explica: “Esta concepção do Sul sobrepõe-se em parte com o Sul geográfico, o conjunto de países e regiões do mundo que foram submetidos ao colonialismo europeu”.

(...)

Santos e Meneses (2009) a colonização não ocorreu apenas no processo de povoamento de dominação, mas também de soberania epistemológica. Com isso, houve um poder desigual que suprimiu ' conhecimentos, culturas e costumes, caracterizando o “epistemicídio”. Santos e Mendes (2018), citam três formas de poder ' neste processo de afirmação da hegemonia da matriz europeia: o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado. Associados a outras formas de dominação como o autoritarismo político e religioso, formaram o arcabouço necessário à reprodução de formas de pensamento e dominação e, ', desprezaram todas as formas de cultura e conhecimento dos colonizados... Santos e Mendes (2018, p.18) afirmam “O objetivo das Epistemologias do Sul é permitir aos grupos sociais oprimidos representar o mundo como seu e nos seus termos, pois só assim poderão mudá-lo de acordo com as suas próprias aspirações”...

Colonialismo pode ser compreendido como a formação histórica dos territórios '; o colonialismo ' pode ser entendido como os modos ' pelos quais os impérios ocidentais colonizaram a maior parte do mundo desde a “descoberta”; e colonialidade ' como uma lógica global de desumanização que é capaz de existir mesmo na ausência de colônias formais (MALDONADO-TORRES, 2019, p.35-36).

Nessa toada... podemos discutir ' pontos que remetem ao autoritarismo e autonomia estrutural desigual. Para representar tais formas de opressão, Santos e Mendes (2018) estabelecem uma classificação quanto aos “espaços de opressão”, da seguinte forma:

Ø   doméstico/patriarcado (violência sexual, pelo feminicídio);

Ø   produção/exploração (exclusão 'dos que trabalham sem direitos);

Ø   mercado/fetichismo (exclui ' os que não têm recursos econômicos para serem consumidores);

Ø   comunidade/desigualdade (exclui pela xenofobia e racismo);

Ø   cidadania/dominação (internamento por tempo indeterminado de refugiados);

Ø   mundial/troca desigual (invadir ' países inteiros para provocar supostas mudanças de regime).

Em todos esses espaços há ' manifestação da violência, realçando ' desigualdade social e cultural... Apresenta Schwarcz (2019) que a colonização no Brasil não passou ' violenta a um território densamente povoado. Estima-se que ' de 1 milhão a 8,5 milhões de nativos povoavam o território. Assim, ocorreu uma terrível perda não só de indivíduos, mas de culturas, crenças, histórias e conhecimentos. Pode-se caracterizar como um legítimo genocídio... Ainda nessa discussão temos:

O vasto genocídio dos índios nas primeiras décadas da colonização não foi causado ' pela violência da conquista, nem pelas enfermidades que os conquistadores trouxeram ', mas porque tais índios foram usados como mão de obra descartável, forçados a trabalhar até morrer (QUIJANO, 2005, p.120).

... Existe uma certeza histórica de que este modelo imposto pela violência brutal calou as demais epistemologias... a preocupação das epistemologias do Sul está relacionada com a superação deste modelo epistemológico moderno ocidental... o pensamento abissal separa dois lados: Norte e Sul, dito de outro modo, os de dentro e os de fora. De um lado da linha, no fundo do abismo, há uma realidade invisível e inexistente (Sul global) e, do outro lado, toda a realidade visível e existente, dominando e controlando toda forma de conhecimento (Norte global)...

... Todas as dimensões epistemológicas são legítimas e válidas no percurso histórico. Porém, o que não pode mais ser tolerado no ' avanço civilizatório é a dominação de ' formas de viver que sejam excludentes, desiguais, autoritárias e violentas... Assim, precisamos da ' crítica para ' justificar a ecologia de saberes de maneira razoável. “É uma ecologia porque se baseia ... em interações sustentáveis e dinâmica entre eles sem comprometer a sua autonomia. A ecologia de saberes baseia-se na ideia de que o conhecimento é interconhecimento”. (SANTOS; MENESES 2009, p. 44-45).

... O que deve permanecer comum a todas as epistemologias ' são valores como respeito, compreensão e tolerância que foram ' diluídos pelo colonialismo, capitalismo e patriarcado e se tornaram y modelo unificador mantido pela força e violência física ou simbólica.

            Deste ponto em diante, o Autor trabalha a questão do "Racismo Estrutural". O que traremos em postagem futura...
        Quem interessar-se pela leitura do trabalho em sua íntegra, pode acessa-lo através do link abaixo:
https://revistas.unila.edu.br/sures/article/view/2229/1988


        De nossa parte, por hora, interessou compreender/analisar as Epistemologias do Sul como algo violentado pelo colonialismo dos Estados "Modernos", eurocêntricos - através (inicialmente) do colonialismo e perpetuada (até os dias atuais) pelo fenômeno da colonialidade. Compreendendo que muitas das violências que se vive nesta contemporaneidade são replicadas pelas figuras atuais dos Estados. Com intuito de manter certos privilégios de "elites crioulas".
        Como bem disse Paulo Freire Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”!
            E dessa forma, vamos perpetuando nossas sociedades globais "sulistas" longe de qualquer possibilidade de uma cultura de paz - pela qual devemos "lutar" persistentemente...

Estudo de trabalho de GOSS & SALLES Filho (2020) realizado no âmbito da Disciplina "Direitos Humanos e Cultura de Paz na Perspectiva das Epistemologias do Sul", na condição de aluno Especial do PPGCSA (Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais Aplicadas), Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) - turma 2021. Sob a coordenação e orientação do professor Dr. Nei Alberto Salles Filho.

Acervo do Autor

Postagens anteriores na temática:

  Colonialidade nas "RI"s em GUERRA (2020), disponível em http://amartb.blogspot.com/2021/06/colonialidade-nas-ris-em-guerra-2020.html

   Educação para a Paz: Conceitual em JARES (2002), disponível em http://amartb.blogspot.com/2021/06/educacao-para-paz-conceitual-em-jares.html



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