Os Estudos Decoloniais e as teorias dos movimentos sociais: repensar e denunciar o eurocentrismo epistemológico das ações coletivas na América Latina
Conclusões
e reflexões
As teorias dos movimentos sociais têm
proporcionado ' possibilidades de análise sobre como as pessoas
constroem ', grupos, movimentos, redes e ' formas de associação
com o objetivo de alcançarem ' construções
identitárias, simbólicas e políticas. Ao atuarem em coletividade, os
subalternos produzem ' experiências políticas ' a partir de
suas ações quotidianas conjuntas...
Esses mesmos ' encontram nas ruas,
nos debates ' e no Estado obstáculos, resistências, oposições que geram
' violências contra suas existências '. 'Os movimentos sociais teriam a possibilidade de ' analisar de maneira
' minuciosa as origens, as necessidades ' e as demandas
dessas coletividades. Apesar disso, as epistemologias produzidas ' nas instituições universitárias, voltadas aos estudos dos movimentos
sociais, ainda mantêm uma produção de pensamento eurocêntrica, moderna e
ocidental.
Esse descuido ' com as
particularidades dos movimentos sociais é produzido de modo voluntário ou
involuntário, ' fruto do
processo colonial. Ao desconsiderar os saberes, as experiências, as construções
identitárias, os mecanismos ' de luta contra as estruturas de
poder, ' raça, gênero, ' classe ' das periferias, e de luta
contra as (mesmas) estruturas ', das favelas, ' e das fronteiras de conhecimento, a
mensagem que se passa é que não há, nas instâncias acadêmicas, espaço de escuta
e de pensamento de outras vozes para além da's que operam pela lógica de
' reprodução de um conhecimento moderno, mercantil e excludente. 'Este ensaio buscou, com 'os Estudos Decoloniais,
proporcionar uma reflexão crítica sobre 'os movimentos
sociais que combatam o eurocentrismo da produção de conhecimento ' (grifo nosso).
A intenção de repensar a produção de
conhecimento ' procura reconhecer a voz dos subalternos (...) defende que não apenas é possível mas
necessário entender a ação ' organizada de maneira decolonial para
construir um conhecimento latino-americano dos movimentos sociais autêntico,
autônomo, crítico ' e que destrua a colonialidade ' que
limita as potencialidades d'a América Latina.
'A decolonialidade serve
para ampliar desde 'a academia a discussão sobre 'os
movimentos sociais na América Latina enquanto coletividades produtoras de
conhecimento. Contudo, ' as epistemologias das teorias dos
movimentos sociais ' da perspectiva clássica regional ' ainda
não são visibilizadas como deveriam (Carvalho, 2015). A hybris do ponto zero ' do conhecimento questiona conhecimentos '
“universais” ' “deslocalizados” que ' isolam a
' produção epistemológica subalterna na América Latina nas
universidades.
Nessa direção, (...) ainda
é necessário deslocar ' o lugar onde os paradigmas são pensados (e) repensar os próprios paradigmas: onde estão localizados 'politicamente os
movimentos sociais? Em que nível a academia reconhece n'os movimentos
sociais novos espaços de diálogos para repensar outras epistemes? Qual o
potencial ' da decolonialidade às teorias dos movimentos sociais?
Ademais, se esses movimentos sociais advogam pela decolonialidade em seus
confrontos políticos, como o fazem?
As veias abertas da América Latina
pulsaram fortemente em 2019. No Chile, milhares de jovens manifestantes tomaram
as ruas ' contra as medidas neoliberais do governo. Os protestos –
marcados por inúmeras repressões da polícia militar Carabineros '
resultaram em mortes, torturas e desaparecimentos – que ' iniciado pelo
aumento no preço das passagens do sistema de transporte, incorporou '
pautas como educação, saúde e assistência social, por exemplo.
Foi também no Chile que o coletivo
feminista La Tesis denunciou as inúmeras violências sexuais e de gênero
' contra as mulheres chilenas em ' ato simbólico ' que
alcançou diversos países. No Equador, as ruas da capital Quito foram tomadas
pela população que se indignou contra as medidas de austeridade do governo pelo
aumento do preço da gasolina. Milhares de pessoas foram presas e atingidas
nesses protestos: crianças, mulheres grávidas, idosos, pessoas com deficiência
e jornalistas. Foram ' registrados casos de assassinatos, segundo
relatório das Nações Unidas.
As migrações forçadas na região '
não param de crescer ', como se observa no
' fluxo ' da Venezuela para países vizinhos'. Milhões
de venezuelanas e venezuelanos – englobando comunidades e ' indígenas –
cruzam ' as fronteiras do país em busca de melhores condições de vida
e de segurança devido ao caos econômico, político, social e humanitário que
assola o país por conta de problemáticas domésticas e internacionais.
Esses são ' alguns acontecimentos
que estão borbulhando as sociedades latino-americanas '. Como
compreender as ações ' de ' movimentos sociais com distintas
características ' e alcances? Quais instrumentos as teorias dos
movimentos sociais podem se valer para entender os atuais levantes ' da
região? O que a decolonialidade ... pode ensinar para o Ocidente?
A dominação, ' expropriação
e ' extermínio das populações, ' pelas mãos de elites nacionais 'e
estrangeiras mantêm suas políticas coloniais, modernas, neocapitalistas,
patriarcais, sexistas e racistas. A decolonialidade pode ser extremamente útil
e necessária ' na abertura de novos caminhos de
análise da colonialidade do saber. Poder-se-ia pensar ' a própria exclusão
de movimentos sociais e de suas idiossincrasias e, movimentos
' forçados que tomam ações coletivas pela pressão de estruturas coloniais
– como um projeto genocida ' do ponto de vista
estatal e mercadológico, ' também do lado acadêmico da colonialidade do
saber.
Outrossim, ' recentes '
estudos ' reconhecem na academia a epistemologia de migrantes; de mulheres
campesinas, negras e indígenas; das reivindicações de crianças na Bolívia, Peru
e México; e de outros movimentos multifacetados que têm muito a dizer '
sobre a colonialidade, mas que possuem poucos espaços para se expressarem nas
universidades enquanto ' produtores de conhecimento e não meros objetos
de análise teórica '. A dificuldade de adentrar as fortalezas
universitárias parece dizer mais da academia do que sobre os movimentos sociais
em si. Trata-se de uma intensa disputa de (re)ocupar lugares de poder
historicamente domesticados e violentados pela colonialidade do saber, do ser e
do poder.
DAUER,
Gabriel. Os Estudos Decoloniais e as teorias dos movimentos sociais: repensar e
denunciar o eurocentrismo epistemológico das ações coletivas na América Latina.
Contextualizaciones Latinoamericanas.
126 Año 11, número 22, Enero-Junio. ISSN:2007-2120. Março de 2020. Disponível
em: https://www.researchgate.net/publication/339697393_Os_Estudos_Decoloniais_e_as_teorias_dos_movimentos_sociais_repensar_e_denunciar_o_eurocentrismo_epistemologico_das_acoes_coletivas_na_America_Latina.
Acessado em 04 de novembro de 2022.
Fonte da imagem serve também como indicação de leitura complementar: www.blogdoarcanjo.com/2021/04/05/as-veias-abertas-da-america-latina-de-eduardo-galeano-faz-50-anos/ |
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