A “milicialização” das Polícias Militares
Na primeira leva, mostra-se a derrocada das
ferramentas clássicas
da política, como a crise das ideologias, a pasteurização dos partidos
políticos, o declínio dos
Parlamentos, o arrefecimento das oposições, a
desmotivação das bases
eleitorais, a exacerbação
do presidencialismo, com
seu sistema perverso de
cooptação, entre outros
fatores. Em contraponto,
criam-se novos polos de
poder, como as entidades
de intermediação social.
Na segunda vertente, a
do filósofo italiano, descrevem-se as falhas dos
sistemas democráticos,
que prometeram eliminar o poder invisível, mas
têm fracassado; dar um
fim às oligarquias, proporcionar transparência
aos governos e expandir
os valores da cidadania, a
partir da elevação dos níveis educacionais. Em seu
livro O Futuro da Democracia, Bobbio descreve
amplo cenário dos horizontes democráticos.
É evidente que, a cada ciclo histórico, novos ingredientes são acrescidos
às planilhas que tratam
da crise da democracia.
Por isso, quando se planeja algum evento sob
a chancela de “crise” na
contemporaneidade das
Nações democráticas,
deve-se entender que as
pautas a serem debatidas
tratam de questões emergentes, algumas de caráter pontual, outras agravadas pela cultura política
que integra a identidade
do país em questão.
Vejamos, por exemplo,
dois temas que estão na
nossa ordem do dia: a
politização das Forças Armadas e a “milicialização”
das Polícias Militares.
Assuntos que expõem a
índole militar-autoritária do nosso presidente.
De pronto, líderes desses
dois contingentes poderão refutar: “não ocorre
isso”. Trata-se de exagero
por parte de jornalistas,
políticos e analistas. Os
temas até podem contemplar uma dose de exagero. Mas a quadra que
estamos vivendo sugere
que eles ameaçam os horizontes democráticos.
Daí necessidade de abrir
o debate.
A politização das Forças
Armadas leva em conta o
circulo de generais convocados para estar ao lado
do presidente da República. Há duas visões sobre o
tema: uma, integrada pelos participantes da roda,
nega peremptoriamente
a incursão das FAs na política. (...) Outra ala, ancorada no profissionalismo,
defende militares da ativa
fora da política e atuando de acordo com a letra
constitucional.
Em suma, os dois temas são banhados pelas
águas da polarização que
toma conta do país. Sua
inserção nos foros de
discussão se justifica, até
para que se dissipem dúvidas sobre intenções de
duas forças que entram
na lupa social.
Fonte:
Jornal Todo Dia - Coluna opinião, p. 02
GAUDÊNCIO TORQUATO
JORNALISTA, PROFESSOR DA
USP E CONSULTOR POLÍTICO
Disponível em:
file:///C:/Users/ANT%C3%94NIO/Downloads/domingo-15-03-2020_.pdf - Acessado em 15/05/2020.
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