Geopolítica e Debates Emergentes em Política, Economia, Religião e Cultura, vol. 02.
[neste, apenas meu trabalho em parceira com o professor Gustavo Bahr do IFPR, Campus TB]
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GEOPOLÍTICA E DEBATES EMERGENTES EM POLÍTICA, ECONOMIA, RELIGIÃO E CULTURA, VOLUME 2.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG) - G345 Geopolítica e debates emergentes em política, economia, religião e cultura [livro eletrônico]: volume 2 / Organizadores Adilson Tadeu Basquerote Silva, Andréa Cristina Marques de Araújo, Roger Goulart Mello. – Rio de Janeiro, RJ: e-Publicar, 2022.
ISBN 978-65-5364-124-2
Elaborado por Ana Carolina Silva de Souza Jorge – CRB6/2610
Editora e-Publicar
Rio de Janeiro, Brasil contato@editorapublicar.com.br www.editorapublicar.com.br
APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que a Editora e-Publicar vem apresentar a obra intitulada "Geopolítica e Debates emergentes em política, economia, religião e cultura, Volume 2". Neste livro engajados pesquisadores contribuíram com suas pesquisas. Esta obra é composta por capítulos que abordam múltiplos temas da área.
Desejamos a todos uma excelente leitura!
Editora e-Publicar
CAPÍTULO 14 - O MONGE SÃO JOÃO MARIA E OS CAMPOS GERAIS DO PARANÁ: DEVOÇÃO E TRADICIONALIDADE....... 212
DOI 10.47402/ed.ep.c2022229414242
Gustavo Conceição Bahr
Antonio Marques de Castro
RESUMO
O presente texto tem como objetivo demonstrar a forma como dois diferentes grupos sociais dos Campos Gerais do Paraná se relacionam com o Monge São João Maria, figura religiosa cultuada por muitos devotos dos estados do Paraná e Santa Catarina. O Monge São João Maria andou pelos Campos Gerais no início do século XX, realizando rezas, batizados e curas com a utilização de plantas medicinais, e com isso se tornou uma grande liderança regional. Muitos locais por onde andou e promoveu seus ritos, são considerados sagrados e alvo de peregrinações por parte de seus admiradores/seguidores, locais esses espalhados por diversas cidades da região do Campos Gerais do Paraná – recorte geográfico deste estudo. A metodologia adotada no trabalho se pautou na técnica etnográfica, através da observação por parte dos pesquisadores, com a inserção nos grupos a serem observados/estudados. Sendo observados/pesquisados os moradores do Faxinal Charqueada dos Betim, localizado no município de Imbaú, ao longo do ano de 2021, e, devotos que participaram da “Peregrinação do Monge São João Maria”, ocorrida em Tibagi, em 2019. Com uma convivência mais prolongada dos pesquisadores para com o primeiro grupo. Os principais resultados identificados na pesquisa foram que o monge exerce grande influência simbólica sobre diversas pessoas desses grupos, que através da fé realizam suas preces, pedidos e agradecimentos. O mesmo ainda é um personagem presente nos trabalhos realizados pelas detentoras de ofícios tradicionais de cura, demonstrando, portanto, ser uma figura religiosa muito emblemática na comunidade (e região). Mesmo diante de uma série de preconceitos existentes.
PALAVRAS-CHAVE: religião; monge; catolicismo rudimentar; faxinais do Paraná; messianismo.
INTRODUÇÃO
Os Campos Gerais do Paraná são descritos como uma região caracterizada como fitogeográfica, formada predominantemente por campos nativos, que integram o Bioma Mata Atlântica, assentados sobre embasamento rochoso sedimentar e solos rasos. Esses campos, que são exemplares de clima pretérito mais seco, se estendem do município de Rio Negro, na divisa com Santa Catarina, até Sengés, na divisa com o estado de São Paulo.
Em função dessas características físicas supracitadas, a região possui riquíssima biodiversidade. Além de exuberantes belezas naturais, também possui diversas singularidades culturais, que se devem, sobretudo, ao processo de ocupação territorial, por deveras também diversificado. Esses aspectos culturais estão presentes nas diversas simbologias relacionadas à religião. Como é o caso da devoção ao Monge São João Maria – objeto das observações etnográficas dos pesquisadores que deu origem a este trabalho. Comprovando, nas opinião dos mesmos, esse caráter devocional de origem cabocla, sobre esse personagem que exerce influência religiosa em outras localidades do Estado do Paraná, assim como na Região do Contestado, no oeste do Estado de Santa Catarina.
Em relação à região catarinense “A presença de monges, benzedores, curandeiros e eremitas fazia parte do universo mágico e religioso da população que vivia na região do Contestado” (VALENTINI et al., 2015, p. 111), sobretudo durante o conflito territorial, que envolveu Paraná e Santa Catarina, entre 1912 e 191. Onde o monge assume um papel além do religioso, sendo, também uma liderança no conflito. Já com relação a sua presença no Campos Gerais, Bennate, Campigoto e Carvalho (2011) destacam que o monge teria percorrido a região no início do século XX, realizando práticas de curas, rezas e batizados. Como resultado dessa peregrinação, diversos municípios da região contam com a presença de fontes d’água, chamadas por muitos de olhos d’água, que teriam sido benzidas pelo monge, como as encontradas em Ventania, Tibagi, Ponta Grossa e São João do Triunfo, além de uma gruta que historicamente está relacionada a passagem do messiânico, no Parque Estadual do Monge, no município da Lapa, locais esses alvos de peregrinações e que são considerados sagrados pelos devotos – tendo as vertentes de água sido batizadas como “olho d’água de São João Maria”.
Também se destacam como locais que se relacionam simbolicamente ao monge, os faxinais do Paran. Comunidades que possuem uma territorialidade específica, envolta por questões culturais e de identidade, ligadas a vivência coletiva e a um catolicismo rudimentar (BAHR, 2021). Esse catolicismo possui “certo dissenso entre as instâncias da Igreja Católica, [seguindo] orientação e dinâmica diversa daquela preconizada pelo catolicismo oficial” (BENATTE; CAMPIGOTO; CARVALHO, 2011, p. 144). Essa discrepância existente entre o catolicismo rudimentar adotado pelas comunidades tradicionais e o clássico, ocorre principalmente pela adoção de santos que não são reconhecidos pela vertente oficial da religião, como é o caso do Monge São João Maria, o que também resulta em preconceitos de comunidades vizinhas, por membros da própria comunidade e por seguimentos da própria Igreja Católica – Conquanto, a fé no Monge vem resistindo e persistindo no tempo.
Diante do exposto, vê-se que os territórios tradicionais são dotados de uma cosmologia, sobretudo, devido a existência de outras narrativas de natureza, ou seja, distintas conexões que esses povos possuem com a natureza (FLORIANI et al., 2016). Benatte, Campigoto e Carvalho (2011, p. 143) destacam que a devoção ao Monge São João Maria, “também é a busca de proteção e de soluções para certas dificuldades enfrentadas no cotidiano dos faxinais, [...] é um aspecto dessa religiosidade que pode ser traduzida como uma espécie de culto doméstico”.
OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICO
OBJETIVO GERAL
O presente texto tem como objetivo geral demonstrar a resistente fé no monge, por parte de grupos distintos dos Campos Gerais do Paraná.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
· Observar o comportamento de grupos sociais distintos, da região estudada, em relação à sua fé no monge São João Maria;
· Testemunhar comportamentos individuais e em grupos em sua prática de fé no monge;
· Perceber presencial e naturalmente o culto a figura religiosa do monge por muitos devotos dos grupos observados;
· Elaborar material resultante dessas percepções dentro de um processo etnográfico.
METODOLOGIA
O estudo pautou-se em observações naturais/etnográficas por parte dos observadores. Conquanto, o presente trabalho possui dois recortes, sendo o Faxinal Charqueada dos Betim, localizado no município de Imbaú, e o evento “Peregrinação do Monge João Maria”, no município de Tibagi. Na perspectiva de demonstrar as relações que os integrantes desses grupos estabelecem com o sobrenatural, utilizando-se do método etnográfico, “composto de técnicas e procedimentos de coleta de dados associados a uma prática do trabalho de campo, a partir de uma convivência mais ou menos prolongada do pesquisador junto ao grupo a ser estudado” (ROCHA, ECKERT, 2008, p. 98).
Sendo assim, o trabalho foi realizado a partir da observação direta, conversas informais e entrevistas não diretivas. No que tange ao Faxinal Charqueada dos Betim, foram realizadas várias incursões à comunidade durante o ano de 2021, e com relação a “Peregrinação do Monge João Maria”, ocorreu a participação no evento realizado no ano de 2019.
Em função do método utilizado, entende-se como por deveras importante frisar que, as participações dos observadores se deram de duas formas, a saber:
· Observador não participante: Quando o observador não se integra à comunidade observada – Caso do professor a observar a comunidade faxinalense, onde o mesmo fez várias visitas à comunidade, em dias esporádicos, sem integrar-se à mesma, onde é perfeitamente identificado, como elemento não comunitário. Participa por alguns momentos da vida da comunidade a observar a mesma;
· Observador participante: Caso em que o mesmo se incorpora ao grupo e confunde-se com ele – Prática realizada pelo observador junto ao grupo de peregrinos de Tibagi, ocorrendo a participação no evento como um peregrino normal sem qualquer identificação, misturando-se ao grupo de interagindo com integrantes do mesmo (na prática de seu processo de observação).
OBSERVAÇÕES E RESULTADOS
FAXINAL CHARQUEADA DOS BETIM
O Faxinal Charqueada dos Betim está localizado no município de Imbaú, centro-leste do estado do Paraná, e possui 50 (cinquenta) famílias de faxinalenses residentes na comunidade. No faxinal ocorre a existência do criadouro comunitário, sendo essa a principal característica dessas comunidades tradicionais, que atualmente só ocorrem no Paraná, sendo que já existiram em todos os estados do sul do Brasil, assim como na Argentina e também no Paraguai (BAHR et al., 2021).
No criadouro comunitário ocorre a criação de animais em meio a Floresta de Araucárias, onde “a paisagem do território faxinalense apresenta também um espaço sagrado cultuado com práticas materiais e simbólicas” (FLORIANI, et al., 2016, p. 116). Bahr e Pelissaro (2020) destacam diversos aspectos culturais presente nos Betim referentes ao catolicismo rudimentar, como as danças, rezas e festividades, os rezadores da dança de São Gonçalo, sendo essa um misto de oração, crença e devoção, além do credo direcionado as divindades locais, com a presença sempre marcante da música.
Durante os trabalhos de campo realizados na comunidade, constatou-se a presença de detentoras de ofício tradicional de cura, como benzedeiras e curandeiras, que possuem conhecimento sobre o uso de plantas com finalidade medicinal, e realizam seus trabalhos com as preces voltadas ao Monge São João Maria. Ainda, uma dessas benzedeiras também é responsável por ministrar as aulas de catequese, assim como a celebração das missas dominicais na ausência do padre, que vai à comunidade um domingo por mês.
Também, foi identificado a presença de capelão, o qual é responsável por diversas atividades religiosas na comunidade, sendo esse (também) devoto do monge João de Maria. Os capelães assumem diversas funções e atividades religiosas, como coordenar e capitanear as rezas nos dias santos, assim como ser o responsável por diversas atribuições fúnebres. (BENATTE; CAMPIGOTO; CARVALHO, 2011).
As atividades religiosas ocorrem na Igreja Católica central da comunidade, que recentemente foi reformada com fundos derivados das festas sempre direcionadas aos santos, como ocorre com o santo oficial, São Francisco de Assis, ou também as demais divindades locais. Essas festas são realizadas com ajuda dos membros da comunidade, em um sistema de mutirão, atividade essa que também ocorre nos demais serviços do faxinal, como a manutenção de cercas, mata burros ou outras necessidades. Esse caráter coletivo é uma importante característica dos faxinais, e está associado intrinsicamente ao catolicismo rudimentar, contrário a lógica fundamentada no individualismo, inserido pelas igrejas neopentecostais, que conforme aponta Floriani e Floriani (2020) é umas das principais causas de desagregação dos sistemas faxinais.
PEREGRINAÇÃO DO MONGE SÃO JOÃO MARIA
No Município de Tibagi (vizinho de Imbaú) é realizada anualmente a “Peregrinação do Monge São João Maria”, evento que ocorre nas madrugadas da Sexta-feira Santa (Sexta-feira Maior), importante data para o catolicismo. Em 2019, como acontece desde 2015 (primeiro ano de organização oficial pela Prefeitura local), o evento teve início às 04h30min, tendo como ponto encontro dos peregrinos a SeTur (Secretaria de Turismo), local de início da peregrinação, a qual tem como destino o Olho d’água São João Maria, localizado a 12 (doze) quilômetros da área urbana. Nesse ano (2019), a peregrinação contou com a presença de aproximadamente 200 (duzentas) pessoas.
Apesar do evento possuir um caráter religioso, foi possível observar e perceber que nem todos os participantes que estavam presentes possuíam a finalidade religiosa. Identificação essa presumida através das observações realizadas junto aos integrantes da peregrinação. E assim, para efeitos de análise, classificou-se os participantes em dois grupos, a saber:
· Grupo do sagrado – Composto em sua maioria por pessoas de perceptível idade mais avançadas, acima dos 30 (anos); e
· Grupo do lazer – Composto por jovens com idade até 29 (vinte e nove) anos.
O grupo do lazer compusera-se, sobretudo, por indivíduos mais jovens, que buscavam realizar uma caminhada, observar a paisagem e/ou fazer amizades.
Já o grupo do sagrado, constituía-se pelas pessoas mais velhas, sendo formado por cerca de cem (ou mais) pessoas, onde a presença no evento percebia-se a finalidade religiosa, atraídos pela fé e a devoção ao Monge São João Maria. Durante o trajeto, as conversas dos integrantes desse grupo deram-se sobre milagres e histórias relacionadas ao monge, intercaladas com rezas e agradecimentos. Enquanto o grupo mais jovem conversava sobre assuntos variados, riam bastante.
Durante o trajeto, de início todos juntos, era possível observar todos. Com o decorrer da caminhada, pequenos grupinhos foram se dispersando, e, para melhor observa-los, fez-se necessários acelerar ou desacelerar o passo, para poder observar/interagir com os mais variados integrantes possíveis.
Por vezes se ouvia um ou outro comentar incentivando quem reclamava de estar cansado, dizendo: “Fé no Monge”!
O fim da procissão ocorreu no famoso olho d’água batizado com o nome do monge (olho d’água de São João Maria), local considerado sagrado, principalmente pelo grupo mais velho, dotado de toda uma simbologia, onde os mesmos realizaram rezas e fizeram a coleta da água, julgada como sagrada pela maioria dos caminhantes/peregrinos/devotos que andaram os 12 Kms de uma madrugada fria de outono para ali se fazerem presentes.
Contudo, os comentários que se ouvia entre os caminhantes/peregrinos era de que tinha valido a pena – a partir de 2015, como responsável oficial pelo evento, a Prefeitura de Tibagi oferece transporte de volta à cidadezinha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dois grupos analisados, faxinalenses da Charqueada dos Betim e peregrinos do evento realizado em Tibagi, mantém a devoção ao Monge São João Maria, sendo evidenciada pelas manifestações observadas durante os momentos em que os pesquisadores estiveram junto aos grupos analisados.
Com relação aos moradores do faxinal, o culto ao sobrenatural e a relação com o cosmos é parte da cultura e identidade faxinalense. A atuação das benzedeiras e curandeiras é de extrema relevância para comunidade, visto que são elas que dão o suporte ao primeiro atendimento diante das enfermidades, e essas tem resistido, mesmo diante de uma série de preconceitos que sofrem, pelos órgãos oficias de saúde, por parte da comunidade do entorno e por segmentos do catolicismo oficial.
No que diz respeito aos peregrinos, conclui-se que as marcas deixadas pelo monge no imaginário da população, resulta numa fé que está presente em seus devotos, na crença da cura e no conforto espiritual. Nos dois casos analisados, a fé relacionada ao Monge São João Maria é forte e presente, mesmo considerando que sua passagem pela região já faz mais de um século, e de todo um preconceito sofrido, os devotos mantém suas crenças e devoções a essa importante figura religiosa dos Campos Gerais do Paraná.
REFERÊNCIAS
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BAHR, G. C. População tradicional e a preservação dos recursos naturais: os Faxinais do Paraná. In: XIV ENCONTRO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA, 2021. Edição on line. Anais eletrônicos... Campina Grande: ANPEGE, 2021. p. 1 – 12.
BAHR, G. C.; CASTRO, A. M. O Monge São João Maria e os Campos Gerais do Paraná: Devoção e tradicionalidade. In: VI SIMPODI. Religião no Brasil: Em busca do reconhecimento e do respeito às diversidades. Evento online. Anais eletrônicos... IFPR. Telêmaco Borba, 2022.
BENATTE, A. P.; CAMPIGOTO, J. A.; CAVALHO, R. Os santos no faxinais: religiosidade e povos tradicionais. Topoi. v. 12, n. 23, p. 14 – 160, jul./dez. 2011.
CASTRO, A. M. Peregrinação João de Maria - Tibagi (2019). AmarTB, Telêmaco Borba, 07/05/2022. Disponível em: https://amartb.blogspot.com/2022/05/peregrinacao-joao-de-maria- tibagi-2019.html. Acesso em 22 jun. 2022.
FLORIANI, N.; VEIGA, A. M., CUNHA, L. H. de O.; GALDINO, J. R. de V. A floresta e a territorialidade faxinalense: espaço sagrado, espaço de lutas. In: BARRERA-BASSOLS, N.; FLORIANI, N. Saberes, Paisagens e Territórios Rurais da América Latina. Curitiba: UFPR, 2016, p. 199 – 217.
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ROCHA, A. L. C da.; ECKERT, C. Etonografia: saberes e práticas. In: PINTO, C. R. J.; GUAZZELLI, C. A. B. (Orgs.). Ciências humanas: pesquisa e método. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2008.
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VALENTINI, D. J.; WITTE, G.; CARBONERA, M.; SALINI, A. M.; ONGHERO, A. L.
Link para acesso a revista e seus originais para a chamada:
https://editorapublicar.com.br/geopolitica-e-debates-emergentes-em-politica-economia-religiao-e-cultura-volume-2. Publicado em 30 de set. 2022.
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