Páginas

sábado, 19 de junho de 2021

Colonialidade nas "RI"s em GUERRA (2020)

Modernidade/Colonialidade e Relações Internacionais: Desvelando a “Colonialidade da Paz”...

GUERRA (2020)

        O ponto de partida ' para iniciar a discussão ' proposta é a disciplina de Relações Internacionais (RI). "Mesmo porque" muitas das discussões a respeito da “paz” ' foram gestadas no interior dessa disciplina acadêmica...
        Dito isso, vamos à discussão do que entendemos por colonialidade da disciplina de Relações Internacionais. Em linhas ' gerais, há dois elementos ' que aparecem na ' historiografia da disciplina. ... é válido lembrar que, no momento de origem das Relações Internacionais em círculos acadêmicos da Europa - inicialmente na Cátedra Woodrow Wilson de Política Internacional, fundada na Universidade de Gales em 1919 - o colonialismo e o imperialismo de potências europeias sobre a Ásia e a África eram realidades em curso, inquestionadas nas discussões da disciplina sobre a cooperação e a paz internacional (RICHMOND, 2008; SHILLIAM, 2011). Ou seja, os debates pioneiros sobre a política internacional diziam respeito a um “mundo”, a um “internacional”, bastante limitado...
        A abstração das RI com relação às experiências de colonialismo e imperialismo e as lutas políticas no Terceiro Mundo permitiram à disciplina construir alguns de seus mitos fundacionais (ÁLVAREZ, 2015;BLANEY; TICKNER, 2017)...
        Assim, a partir das contribuições do Grupo Modernidade/Colonialidade/Decolonialidade, um primeiro ponto a se destacar, é que as RI estão inscritas em uma “geopolítica do conhecimento” (DUSSEL, 2005; MIGNOLO, 2003) bastante circunscrita, delineada de acordo com interesses e saberes das Grandes Potências no Norte Global...
        ...o Estado é lido em sua manifestação “para fora”, isto é, abstraído de suas configurações sociais internas e reduzido a um suposto instinto natural por sobrevivência no sistema internacional, seja via conflitos, seja via cooperação...
        Finalmente, o ' ponto que propusemos trabalhar em uma análise das RI a partir do pensamento decolonial é a ' configuração do sistema internacional. A partir das contribuições do pensamento decolonial, pensamos o ‘sistema internacional’ como “sistema - mundo moderno/colonial” - ou, seguindo as provocações de Ramón Grosfoguel (2007: 73), como “sistema-mundo europeu/euro-americano moderno/colonial capitalista/patriarcal”. Olhando a partir desse ângulo, a ficção de um mundo composto exclusivamente de Estados e ' de uma “igualdade soberana” entre eles é notavelmente perturbada. Vêm à tona os processos de expropriação, colonização, genocídio, escravização e servidão que permitiram a constituição desse “sistema-mundo” em primeiro lugar (ÁLVAREZ, 2015; TAYLOR, 2012). Tendo isso em vista, a ideia de “igualdade soberana” é atravessada por hierarquias raciais, econômicas, políticas, culturais e epistêmicas que estruturam o “internacional” (AALBERTS, 2014; ANIEVAS; MANCHANDA; SHILLIAM,2015; BLANEY; TICKNER, 2017; SABARATNAM, 2011; SHILLIAM, 2011).
        ...Portanto, apontar para as implicações coloniais dos pressupostos teóricos e analíticos das Relações Internacionais é também uma forma de contestar a sua propagação como orientação normativa de processos e intervenções na política internacional.
 
        ...Com efeito, ... se formou nas RI todo um léxico normativo em torno da política internacional para a construção da paz, que envolve termos como “Estados falidos”, “(re)construção de Estados”, “'boa governança”, ' “'segurança-paz-desenvolvimento”, “paz liberal”, ... “imposição da paz”, “intervenções para a paz”, ... (GUERRA; BLANCO, 2018; JONES, 2015; SABARATNAM, 2017). A premissa que rege esses termos, ... pode ser sumarizada da seguinte maneira: existem “Estados problemáticos”, ' na periferia global, que são incapazes de garantir o monopólio ' sobre o uso da força e, ' a segurança e integridade de seus cidadãos. Assim, se convertem em palcos de conflitos civis violentos, que podem ‘transbordar’ e se tornar verdadeiras ameaças para a segurança internacional. Haveria, portanto, uma responsabilidade da “comunidade internacional” - ', notadamente representada pelo Sistema ONU - em evitar esse tipo de situação, intervindo em cenários de conflitos civis violentos para promover o fim das hostilidades, a estabilização econômica, política e social e a construção de condições institucionais e de governança tidas como ideias para evitar a recorrência de conflitos e garantir uma paz de longa duração ('DPKO, 2008; UN, 1992)...
        Assim, a ' imposição - ' por atores majoritariamente ocidentais - de novos arranjos de governança é notavelmente insuficiente para ‘solucionar’ as feridas ' históricas de colonialismo, neocolonialismo e permanente colonialidade. É o que constata David Chandler (2006), em análise de ' casos em que os projetos de reconstrução estatal resultaram no que chama de “Estados fantasmas”: formal e juridicamente ' estruturados, mas na prática desvinculados de suas populações locais. Brown et al. (2010) ' trazem uma problematização semelhante, lembrando que em países da periferia global ' subjugados por processos coloniais - maioria dos casos aos quais ' se enviam operações de paz - o Estado Nação é ' uma imposição espúria. As formas de comunidade política ' respaldas por legitimidade popular tendem a se concentrar em instituições tradicionais e esferas políticas mais localizadas ('MAC GINTY, 2011; RICHMOND, 2011).
        Nota-se, então, um processo ' semelhante ao percebido por Arturo Escobar (2007a: 28, tradução Autor) em ' análise sobre políticas do desenvolvimento no Terceiro Mundo: crê-se que “existe uma verdadeira subjetividade subdesenvolvida dotada de traços como a impotência, a passividade, a pobreza e a ignorância, geralmente pessoas escuras e carentes de protagonismo, como se estivessem à espera de uma mão ocidental (branca)”. Assim, políticas de construção da paz ' emancipatórias acabam por representar, em última instância, apenas mais uma forma ressignificada de subjugação colonial (PINGEOT, 2019; SABARATNAM, 2017).
grifos nosso.

        Em seguida o Autor trata a "Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti". Como algo dentro do contexto acima.
        A quem interessar possa, segue o link onde se encontra o texto na íntegra, bem como as referências do trabalho:

        De nossa parte, por hora, interessou compreender/analisar a concepção de Estado "Moderno", a transição do colonialismo para o estado de colonialidade, mantido e justificado através das chamadas "Relações Internacionais" (RI) - Através da qual os Estados dominantes, eurocêntricos (a exceção dos EUA), mantém sua exploração/subjulgação dos Estados periféricos. Contribuindo para com as formas de violências que se encontram impregnadas nestes últimos.
        E assim, não se consegue criar perspectivas e/ou principalmente condições para uma Cultura de Paz dentro desses Estados "Sulistas" - excluídos do Norte Global. Sendo que, a priori, em muitas das situações, os próprios cidadãos postam-se a favor de seus colonizadores/exploradores. Por desconhecer (não compreender) as próprias condições em que se encontram imersos.

Estudo de trabalho de GUERRA (2020) realizado no âmbito da Disciplina "Direitos Humanos e Cultura de Paz na Perspectiva das Epistemologias do Sul", na condição de aluno Especial do PPGCSA (Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais Aplicadas), Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) - turma 2021.


CHEGA DE GUERRA,
EU QUERO É PAZ NA MINHA TERRA
by AmarTB (2016)

Origem da imagem:




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço as eventuais colaborações!