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sábado, 31 de maio de 2014

Tráfico de cachaça na Fazenda Monte Alegre... (...)

Monte Alegre do dia a dia
Eram dois amigos, o Meira e o Rodrigues. Amigos desde que habitavam os barracões de duzentos beliches, para solteiros. Casaram. Passaram a morar numa das casinhas de pinho de Lagoa. Batizaram mutuamente os filhos. Tornaram-se compadres. No trabalho estavam juntos, paranaenses calados, de pouca conversa. Nas horas de folga, a cachaça cortava a inibição.
Da janela de seu escritório, Luiz Vieira os via na praça, da vila recém-arruada. Um dia, notou que se metiam num tumulto... O álcool tornava os homens belicosos... Rodrigues e Meira tinham saído do bar... Atiraram-se mutuamente. Caíram ambos ao mesmo tempo. O pó levantou em torno dos corpos...
Não eram as primeiras vítimas da bebida à solta.
Luiz Vieira concluiu que não podia continuar assim... Decretou a Lei Seca em toda a Fazenda Monte Alegre.
( . . . )
No Posto da Corrente, à entrada da única estrada para a Fazenda (um ramal da Estrada do Cerne), cada viajante entregava a bagagem para uma revista minuciosa. Era proibido carregar armas e traficar bebidas alcóolicas.
Houve protestos, ameaças e reclamações de toda ordem. Às escondidas, o contrabando começou.
_O contrabando maior era feito pelo Rio Tibagi... – Conta Luiz Vieira.
_ Os contrabandistas haviam estendido um cabo aéreo de margem a margem. De noite, reuniam-se e começavam a puxá-lo, por intermédio de uma roldana. Prendia nele as garrafas, com um arame . . .
Mas a cachaça vinha, também, presa à cintura dos que se arriscavam à nado; oculta, no fundo das canoas; amarradas debaixo do casco, vertida nos tanques de gasolina dos caminhões que então funcionavam a gasogênio, escondidas nos cupins do campo, e até dentro duns pães compridos, especiais, que alguns privilegiados recebiam de Piraí.
_Era justo que os homens tomassem seu aperitivo. Permiti a venda de uma garrafa de vermute por mês, obtendo dos chefes-de-turma a promessa de que não haveria bebedeiras e brigas. Pois justamente um deles me aparece num pifão lascado.
_Você está bebidozinho, heim? Disse-lhe eu.
_Pois estou mesmo, dr. Vieira. O sr. está vendo – Pra quê negar?... _E o homem balançava-se nas pernas, de pálpebras caídas, na maior das carraspanas.
_E você ficou assim só com uma garrafa de vermute?
_Não, dr. Vieira. Eu fui comprando e guardando. Não tomei um trago. Economizei três meses, na maior lei seca... e hoje tirei para beber tudo de uma vez...
(pausa para risos)
A lei seca continuou em vigor e evitou muitas mortes. Pouco a pouco foi atenuada, com a permissão para venda de número controlado de garrafas de vinho e cerveja, nos fins de semana. O contrabando, porém, não cessou: A Cachaça do paixão valia vinte mil réis a garrafa ou seja cerca de 10% do salário comum da época.

Afinal, que outro divertimento conheciam aqueles rudes trabalhadores, a maioria ex-lavradores de Ortigueira, Piraí, Reserva, Lajeado, Faxinal ou Natinguí? Que tinham para fazer, além de tomar “os goles”, quando não estavam de serviço?

Fonte: Retirado da obra de HELLÊ VELLOZO FERNANDES:
Monte Alegre - cidade papel. 1974; p. 86 a 88.

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