Epistemologia, segundo Paiva (2015, p. 200), “é toda concepção refletida ou não sobre as condições de conhecimento válido”... a busca por entender as epistemologias do Sul faz surgir um universo de incansáveis lutas, evidenciando a heterogeneidade mundial em relação a costumes, crenças, culturas e valores. Porém segundo Paiva (2015) no desenvolvimento da história se sobressaiu uma única configuração de conhecimento ' disseminada por séculos, minimizando e obscurecendo outras epistemologias e desconsiderando qualquer outra forma de conhecimento. Esta configuração estava relacionada ao Norte global, particularmente ao modelo da sociedade da Europa... Santos explica: “Esta concepção do Sul sobrepõe-se em parte com o Sul geográfico, o conjunto de países e regiões do mundo que foram submetidos ao colonialismo europeu”.
(...)
Santos e Meneses (2009)
a colonização não ocorreu apenas no processo de povoamento de dominação, mas
também de soberania epistemológica. Com isso, houve um poder desigual que
suprimiu ' conhecimentos, culturas e costumes, caracterizando o “epistemicídio”. Santos e Mendes (2018),
citam três formas de poder ' neste processo de afirmação da hegemonia da matriz
europeia: o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado. Associados a outras
formas de dominação como o autoritarismo político e religioso, formaram o
arcabouço necessário à reprodução de formas de pensamento e dominação e, ',
desprezaram todas as formas de cultura e conhecimento dos colonizados... Santos
e Mendes (2018, p.18) afirmam “O objetivo das Epistemologias do Sul é
permitir aos grupos sociais oprimidos representar o mundo como seu e nos seus
termos, pois só assim poderão mudá-lo de acordo com as suas próprias aspirações”...
Colonialismo pode
ser compreendido como a formação histórica dos territórios '; o colonialismo '
pode ser entendido como os modos ' pelos quais os impérios ocidentais
colonizaram a maior parte do mundo desde a “descoberta”; e colonialidade ' como
uma lógica global de desumanização que é capaz de existir mesmo na ausência de
colônias formais (MALDONADO-TORRES,
2019, p.35-36).
Nessa toada... podemos discutir ' pontos
que remetem ao autoritarismo e autonomia estrutural desigual. Para representar
tais formas de opressão, Santos e Mendes (2018)
estabelecem uma classificação quanto aos “espaços
de opressão”, da seguinte forma:
Ø doméstico/patriarcado (violência sexual, pelo feminicídio);
Ø produção/exploração (exclusão 'dos que trabalham sem direitos);
Ø mercado/fetichismo (exclui ' os que não têm recursos econômicos para serem consumidores);
Ø comunidade/desigualdade (exclui pela xenofobia e racismo);
Ø cidadania/dominação (internamento por tempo indeterminado
de refugiados);
Ø mundial/troca desigual (invadir ' países inteiros para provocar supostas mudanças de regime).
Em todos esses espaços há ' manifestação
da violência, realçando ' desigualdade social e cultural... Apresenta Schwarcz
(2019) que a colonização no Brasil não passou ' violenta a um território
densamente povoado. Estima-se que ' de 1 milhão a 8,5 milhões de nativos
povoavam o território. Assim, ocorreu uma terrível perda não só de indivíduos,
mas de culturas, crenças, histórias e conhecimentos. Pode-se caracterizar como um
legítimo genocídio... Ainda nessa discussão temos:
O vasto genocídio
dos índios nas primeiras décadas da colonização não foi causado ' pela
violência da conquista, nem pelas enfermidades que os conquistadores trouxeram ',
mas porque tais índios foram usados como mão de obra descartável, forçados a
trabalhar até morrer (QUIJANO, 2005, p.120).
... Existe uma certeza histórica de que
este modelo imposto pela violência brutal calou as demais epistemologias... a
preocupação das epistemologias do Sul está relacionada com a superação deste
modelo epistemológico moderno ocidental... o pensamento abissal separa dois
lados: Norte e Sul, dito de outro modo, os de dentro e os de fora. De um lado
da linha, no fundo do abismo, há uma realidade invisível e inexistente (Sul
global) e, do outro lado, toda a realidade visível e existente, dominando e
controlando toda forma de conhecimento (Norte global)...
... Todas as dimensões epistemológicas são
legítimas e válidas no percurso histórico. Porém, o que não pode mais ser
tolerado no ' avanço civilizatório é a dominação de ' formas de viver que sejam
excludentes, desiguais, autoritárias e violentas... Assim, precisamos da '
crítica para ' justificar a ecologia de saberes de maneira razoável. “É uma ecologia porque se baseia ... em
interações sustentáveis e dinâmica entre eles sem comprometer a sua autonomia. A
ecologia de saberes baseia-se na ideia de que o conhecimento é
interconhecimento”. (SANTOS; MENESES 2009, p. 44-45).
https://revistas.unila.edu.br/sures/article/view/2229/1988
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